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Eterno esboço (ou nostalgia em plena primavera)

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Caetano e o tempo.

  Impressionante o poder que a música tem de fazer viajar no tempo.  Ainda há pouco, no banho, Marisa Monte chegou na playlist, e o túnel se abriu.  O ano era 2000. Tudo estava chegando ao fim. O ensino médio, o curso técnico, o século. O grupo grande de amigos também, embora esse a gente só percebesse depois.  O que restava da inocência. Nova Brasil FM era a rádio que o dial marcava o dia todo, e embalava os namorinhos da adolescência.  Virou e mexeu Caetano surgia com o verso "menina do anel de lua e estrela".  Numa dessas vezes, os dois estavam deitados com pouca roupa, ela usava aquele brinco que era o título da música. A gente fez um desenho na pele um do outro e isso se tornou meio que o símbolo das nossas comunicações, e desenhávamos nos cantos das cartas.  Na época isso tinha importância, mas ficou esquecido por quase essa vintena de anos. Até a Marisa Monte me trazer precisamente aquela voz ao pé do ouvido.  Já que em outubro as pessoas desenham, aí está.

Reflexões sobre o gostar

Há tempo o conceito de gostar vem martelando minha cabeça. Porque se gosta "apesar de"?  É triste isso. É triste isso ser inevitável. Se existe uma outra forma de gostar (espero que sim) eu tenho gostado de tudo errado desde o começo (e isso é uma constatação que em si já é, também, triste). Isso não é sobre pessoas, exclusivamente. Nem sobre coisas. É sobre tudo, sendo sobre nada. É simplesmente sobre gostar. Qual seria a saída? Como seria gostar, simplesmente gostar, sem o tal do "apesar de"? "Eu gosto de fulano, apesar delx ter/fazer tal coisa" "Eu gosto de carne gorda, apesar de dar infarto" Como se faz pra terminar essas frases no meio delas? "Eu gosto" Isso está em minha cabeça não é de hj, e eu ainda não entendi. Provavelmente a resposta seja que eu tenho gostado errado das coisas. Sério. Ou simplesmente que eu não tenha gostado das coisas. Ou que tenha algum distúrbio neuroquimico no meu cérebro. Ou tudo isso. Ou nada di

Spoiler: No fim é um círculo vicioso.

Faz parte da capacidade humana. A evolução nos trouxe aqui e nos deixou nessa. Estou falando sobre adaptar-se. Acostumar-se a algo. É uma delícia se acostumar ao que é bom. Sistema límbico pula de alegria. Mas a vida não é feita SÓ de coisas boas. Mas a vida não é feita de coisas boas. A vida tem momentos bons, num mar de normalidade. É isso que nos dá a fugidia sensação de felicidade. Sistema de recompensa e coisa e tal. E aí que mora a pegadinha da coisa toda. A gente se acostuma. A gente se vira com o que tem a disposição. E se você chafurdar por tempo suficiente, você para de sentir o cheiro. Ou seja. A gente se acostuma com o que dá pra ter. E isso nem sempre é bom.  Quase nunca é bom. Relacionamentos merda saem disso. Empregos frustrantes saem disso. Abandono da saúde pode sair disso. Todos eles pequenos suicídios diários. Hoje encaro isso sendo aquele eterno insatisfeito. Se é o que acho bom? Não, não acho que seja o ideal.

Terça

O que fica do encontro é o encontro. A conversa foi boa, mas acabou. O povo sumiu, a luz se apagou. A borra do café mal coado no fundo do copo americano não será lida. O cheiro do cigarro morto apagado no cinzeiro vai passar. Tudo fica ali, naquele momento. O que se carrega do encontro? Sorriso, riso, experiências, abraços? Não. O que fica do encontro, é o encontro. Ainda é terça feira.

Oh monday, monday

Hoje já é passado. O instante já foi. O estado de espírito mudou. O sorriso ainda no rosto recebe o primeiro sal que escorre. Dói. Idas e vindas mentais pra lugares esquecidos. Idas e vindas mentais pra futuros possíveis mas indesejados. O fluxo não para. Uma espiral toma conta, atrapalhando o tráfego, atrapalhando o sono, atrapalhando o sábado. Uma melodia surge, aumentando incomodamente o incessante suspiro no ouvido. Combinações possíveis pipocam em flashes, criando divagações que perduram um milionésimo de segundo a mais, mas o processamento não acompanha. Travou, deu tela azul. Tudo vai dar certo. Nada vai dar certo. Mais uma segunda feira.

Coltrane no Jardim...

Com o alumbramento de quem pela primeira vez contempla um lugar onde se sinta em paz, um lugar que apenas de longe se admire a beleza, ele olhou.  Era a primeira vez se encontrava as portas de um lugar como um Jardim Botânico; lugar onde a natureza é sempre crua, nua, pura e bela, ele olhou. Era o tipo de lugar que ele via e se deliciava com a beleza, mas sem nunca se aproximar. Num lampejo de (louca) coragem mudou sua rotina, e com isso olhou mais de perto.  Começou a observar detalhes que de longe não seria possível ver. Uma pequena marca aqui, certamente fruto de uma história pregressa. Um sinal de delicadeza que olhando de longe jamais julgou existir. Mais que isso, muito mais, viu nuances que estavam fora do alcance da sua vista, e que o fascinaram. As cores ganharam contraste, as formas se definiram. Aquela pequena assimetria que a todo momento puxava o seu olhar; e que, por ser assim pela natureza, destacava-a dos demais; completando a beleza crua daquilo que observava. E obs